domingo, 6 de setembro de 2009

Jekyll - Prólogo.

"Mas que saco."
Eram essas as palavras que passaram por sua cabeça, enquanto tateava indelicadamente o seu criado mudo em busca de seu despertador que horrívelmente não parava de tocar. Estava pensando em desligá-lo, ou talvez arremessá-lo pela janela o quanto antes. (não que ela estivesse aberta, mas não faria muita diferença, ao menos no presente momento.)

E quando já havia terminado de tropeçar seu caminho até o banheiro, após a inigualável e sobrehumana determinação empregada na caça de algo para vestir em seu guarda-roupas no quarto escuro, o garoto tomava posse de sua escova de dentes, ainda com a visão embassada, preparando-se psicologicamente para o inevitável diário que estava por vir.

Alguns olharam com um que de estranhamento, outros com um de alívio, e ainda aqueles que admiravam dolorosamente a sina do garoto-moço.

Sem amor, sem família, sem aquilo que nos ampara quando caimos de cabeça no abismo de nossos corações. Sem um rumo também, mas disso ele mesmo deu conta, não eram todos que podiam ser felizes afinal -Não ainda, disse ele a si mesmo e a seu companheiro de viagem.

Afinal, o ramo de entrega de sonhos em domicílio não era muito lucrativo, muito menos agradável. Mas era o caminho que ele escolheu sem olhar para trás. (A não ser eventualmente, mas por cautela, apenas checando se _Ela_ não estava lá.)

Alçou voo então ao Soar da Meia Noite, brandindo uma indiscreta e espaçosa aveludada algibeira Anil em suas costas, com rebuscados bordados de luas e estrelas em fios de ouro. Ao Soar da Meia Noite com seu assistente prontamente simultâneo. (Não que ele realmente assistisse no trabalho, ou em qualquer outra hora do dia que fosse, mas não faria muita diferença, ao menos no presente momento.)

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