quarta-feira, 21 de abril de 2010

Fantasma

"Em branco."

Seria o pensamento solo que viria à minha mente, caso ela não estivesse se esvaziado na maior plena e arrebatadora maestria, após todos esses poucos anos, anos estes que foram tempo demais.

Pois, afinal, ela estava lá.


Ela. Lá.


Sentada numa lanchonete fast food, conversando, rindo. Rindo seu riso que apenas como um fantasma de minhas lembranças pude ver nestes ultimos três anos e sete meses de desespero e confinamento.

Não foi necessária a multidão até as mesas, as crianças de mãos dadas às mães, os integrantes de tribos urbanas no caminho, ou mesmo a densa e onipresente cacofonia que encobria a praça como uma vasta e pesada colcha de retalhos. Todos desempenharam seus papéis quanto à sua inutilidade, pois os trespassei como o mais tenebroso de meus pesadelos, como aquilo que simplesmente não havia estado lá, como um fugaz devaneio.

Nossos olhos, em meio ao distrativo e movimentado ambiente, por entre as vozes e os sons das lojas. Nossos olhos se encontraram por aquele momento, mas por aquele momento somente.

Naquele momento em que se deram mil primaveras, verões, outonos e invernos, nossas palavras foram embora. Nosso sangue parou de correr. Nossos corpos agiram como bonecos feitos de ossos.

(O momento durou para sempre, e para sempre estive com meu amor a ínfimos suspiros de distância. Mas como a eternidade não é suportável à frágil e sucetível mente de um pobre humano como eu, fui forçado a criar uma ilusão para que pudesse viver com os resquícios de minha sanidade.)

A cacofonia retorna, e as pessoas ao meu redor estavam lá novamente.


E então,


Eu o percebo. Eu o percebo novamente. Meu nêmesis, minha impecável assombração.

Realizando mais um desfecho de suas estadias, deixando-me novamente à mercê de meus famintos demônios. Desfazendo-se como aquilo que sempre será, anunciando sem gestos ou palavras, seu inevitável e impetuoso retorno.